19/11/2012 10h30m
Deu no O Globo
Cidade
de Gaza e Tel Aviv O quinto e mais sangrento dia da ofensiva israelense
em Gaza, com 24 palestinos mortos, foi marcado pelo massacre de uma
família palestina e pela intensificação da pressão internacional para
evitar uma invasão terrestre ao território. Fiel aliado de Tel Aviv, os
Estados Unidos manifestaram apoio incondicional ao parceiro histórico -
ressaltando, porém, que um ataque por terra não seria "preferível", como
definiu o presidente Barack Obama. O Reino Unido também expressou
solidariedade a Israel, enquanto a França, que mandou seu chanceler a
Jerusalém, foi mais reticente.
A
mobilização ocidental, assim como a pressão dos vizinhos no Oriente
Médio, parece ter surtido efeito. Segundo a rede al-Jazeera, ontem à
noite Ramzi Hamad, um dos chefes do Hamas na Faixa de Gaza, afirmou que o
grupo palestino e Israel já concordaram em 90% dos termos para um
acordo de cessar-fogo. Já uma das autoridades do Fatah, organização
rival ao Hamas e que também participa das negociações, confirmou que as
conversas com os israelenses estão em estágio avançado.
O
relativo otimismo com o fim do confronto veio após um dia marcado pela
violência. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu assegurou que as
Forças Armadas israelenses estão preparadas para "expandir
significativamente" a operação contra os militantes palestinos na Faixa
de Gaza. Além de manter em vigor a ameaça da invasão terrestre a Gaza,
Israel comandou o ataque a um centro de imprensa no território
palestino, deixando oito jornalistas feridos - um deles teve de amputar a
perna. A situação ficou ainda mais tensa após um míssil atingir em
cheio a casa da família al-Dallu, na Cidade de Gaza. Doze de seus
integrantes morreram, entre eles quatro crianças e cinco mulheres. O
massacre gerou críticas até da TV israelense, que ressaltou que, até
agora, os bombardeios tinham precisão quase cirúrgica.
Em
comunicado, o Hamas protestou contra a chacina: "O massacre da família
al-Dallu não ficará sem resposta". Os outros 15 palestinos mortos ontem
foram atingidos por ataques a cidades como Shejaiya, no Leste de Gaza, e
Jabaliya, no Norte do território.
Ontem,
114 mísseis foram disparados de Gaza em direção a Israel, atingindo
Beersheba, Ashdod, Ashkelon e Sderot, deixando pelo menos cinco feridos.
O sistema antimísseis Domo de Ferro conseguiu interceptar 30, entre
eles quatro que atingiriam Tel Aviv.
Israel
pôs a culpa das mortes nos militantes palestinos. O general Yoav
Mordechai, porta-voz do Exército, mostrou vídeos do que seriam grupos
atuantes em Gaza operando mísseis em regiões habitadas, próximo a
mesquitas, escolas e prédios.
- O
Hamas está usando a população de Gaza como escudo humano - acusou. -
Eles estão explorando áreas urbanas residenciais muito habitadas.
Apesar
das hostilidades, Israel e Hamas garantiram, ao longo do dia, estar
abertos a negociações para interromper a troca de mísseis. Funcionários
palestinos afirmaram que um cessar-fogo poderia ser assinado ainda hoje,
no Cairo. A imprensa israelense informou que uma delegação do país
também estava na capital egípcia, embora um porta-voz do governo tenha
negado. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chegará à cidade hoje
para reforçar o grupo de autoridades que tentam um acordo.
Ban
será recebido pelo presidente egípcio, o islamista Mohamed Mursi - que,
durante todo o fim de semana, foi anfitrião de colegas da Liga Árabe.
Mursi conseguiu do primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, a
promessa de que ele assinaria um cessar-fogo, desde que o grupo
palestino receba "garantias de que não haverá uma agressão no futuro".
Obama: "Israel tem o direito de se defender"
Em
visita à Tailândia, sua primeira viagem internacional desde a
reeleição, no dia 6 passado, Obama deixou claro que os EUA estão
firmemente ao lado de Israel, mas apelou para que Netanyahu dê mais
tempo para os governantes do Oriente Médio tentarem controlar o Hamas.
-
Se esse objetivo pode ser atingido sem a evolução de uma atividade
militar em Gaza, seria preferível - avaliou. - E isso não é preferível
apenas para a população de Gaza, mas também para os israelenses, porque,
se as tropas de Israel estiverem em Gaza, haverá um risco muito maior
de ocorrerem mortos e feridos.
De
acordo com Obama, Israel tem o direito de se defender do ataque. Com a
mensagem de Netanyahu de que Israel estaria pronto para expandir sua
ofensiva, Obama alertou aos líderes do Oriente Médio que Tel Aviv "tem
todo o direito de garantir que mísseis não serão disparados contra seu
território".
- Não há um país no
planeta que toleraria mísseis, vindos de fora de suas fronteiras,
chovendo sobre seus cidadãos - ressaltou Obama em Bangcoc, capital
tailandesa. - Apoiamos totalmente o direito de Israel de se defender.
Apesar
de ter uma relação difícil com Netanyahu, o líder americano destinou os
comentários mais ásperos a Mursi e ao primeiro-ministro turco, Recep
Tayyip Erdogan, que têm se posicionado como críticos ferozes das
operações israelenses em Gaza. Obama advertiu os apoiadores de um Estado
palestino independente que qualquer acordo de paz seria empurrado para
um "futuro distante" se o conflito atual aumentasse.
-
O que eu disse ao presidente Mursi e ao premier Erdogan é que os
defensores da causa palestina deveriam reconhecer que, se a situação em
Gaza se agravar, a probabilidade de termos um acordo de paz será
empurrada para o futuro - alertou. - Estamos trabalhando ativamente com
os representantes da região para ver se podemos cessar o lançamento de
mísseis sem uma escalada de violência.
"Simpatia internacional" em jogo
O
governo britânico também cerrou fileiras ao lado de Israel. O ministro
das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, atribuiu ao Hamas
a principal responsabilidade pela crise em Gaza, devido aos constantes
bombardeios palestinos ao território israelense. Hague, no entanto,
considerou que seria difícil para a comunidade internacional continuar
simpática a Israel se o país insistisse numa operação terrestre. Esta
opção tornaria mais difícil conter as baixas civis, o que provocaria um
prolongamento do conflito.
- O
primeiro-ministro (David Cameron) e eu salientamos aos nossos colegas
israelenses que uma invasão por terra da Faixa de Gaza custaria a Israel
muito do apoio internacional que ele tem nessa situação - revelou, em
entrevista a uma emissora de TV britânica. - Seria muito mais difícil
restringir ou evitar mortes de civis durante uma ação como esta.
-
Deixamos nosso ponto de vista muito claro para Israel - acrescentou. -
Assim como, para nós, é muito claro que o fim do disparo de mísseis de
Gaza para o Sul de Israel é uma situação intolerável, e não é uma
surpresa que o país tenha respondido a isso.
A
França despachou seu ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius,
para Israel. O chanceler francês ofereceu ao colega israelense, Avidgor
Lieberman, os esforços de seu país para que o confronto terminasse com
um "cessar-fogo imediato".
Lieberman
agradeceu a "mobilização francesa para evitar vítimas", mas avaliou que
apenas "quando todas as organizações terroristas anunciarem um
cessar-fogo", Israel poderá considerar "todas as ideias que o ministro
francês e outros amigos estão propondo".
O
chanceler ressaltou que seu país não negociaria uma trégua na Faixa de
Gaza enquanto mísseis ainda fossem disparados do território palestino.
- A primeira e absoluta condição para uma trégua é acabar com o bombardeio vindo de Gaza - destacou.
O
ministro israelense ainda impôs que todas as facções palestinas
presentes em Gaza se comprometam com o cessar-fogo. Esta, segundo ele, é
a forma de conseguir "um acordo de longo prazo".
Fonte: Brasilia emTempo Real
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